Neste artigo abordaremos os 4 principais passos para o planejamento da cadeia de suprimentos, discutindo cada um deles individualmente.
Um estudo de planejamento da cadeia de suprimentos (também conhecido como desenho de malha logística ou SCND) compreende uma série de decisões, tais como a definição da quantidade, do tamanho e da localização em que as instalações devem estar, assim como também a determinação dos fluxos de transporte entre todas as instalações e das instalações até os clientes.
O escopo do projeto pode englobar uma série de decisões importantes. Dependendo da sua abrangência, será necessário tomar decisões sobre a seleção de fornecedores e a definição dos locais de produção para cada tipo de produto. Além disso, você precisará escolher os veículos a serem utilizados e definir onde manter os estoques de materiais, sempre levando em consideração as exigências logísticas específicas de cada operação.
A primeira etapa de um projeto deste tipo consiste na tradução da operação real em modelos matemáticos contidos nos softwares de desenho de malha (os “Digital Twins“, expressão na moda no mundo da modelagem matemática).
Na etapa seguinte, utilizamos algoritmos de otimização para encontrar a “solução ótima” dos modelos. Esses algoritmos desempenham um papel crucial na busca pela melhor solução possível. Por fim, interpretamos os resultados obtidos e aplicamos as conclusões à operação real, como ilustra o esquema na figura abaixo.
Metodologia de projetos de planejamento da cadeia de suprimentos (SCND)
Embora os softwares matemáticos sejam fundamentais para resolver uma parte importante desse problema (pois são responsáveis por rodar algoritmos que otimizam e encontram a “solução ótima” dos modelos), a tradução da realidade representa muitas vezes o maior desafio para especialistas em projetos de configuração de redes logísticas.
Em qualquer SCND, a primeira etapa consiste no entendimento detalhado da operação. Quais são as instalações atuais? Como se comporta a demanda? Onde estão os principais custos da operação logística? Como a operação ajustada altera os custos?
Na fase inicial do projeto, a primeira tarefa consiste em levantar e analisar todos os dados disponíveis. Após essa etapa, a equipe de planejamento da cadeia de suprimentos começa a se familiarizar com a operação, para que possa entender melhor as necessidades e desafios envolvidos. Esse processo de integração é essencial, pois garante uma compreensão mais profunda e clara, fundamentando as etapas seguintes do projeto.
A demanda é, sem dúvida, um dos principais elementos a ser compreendido em qualquer operação. Para entender completamente sua influência, é necessário analisar suas características, como distribuição geográfica, tamanho dos pedidos e sazonalidade, entre outros fatores. Esses aspectos impactam diretamente a localização das instalações, como fábricas ou centros de distribuição, que são essenciais para atender às necessidades de maneira eficiente e estratégica.
Ainda nesta mesma etapa, a equipe pode enfrentar o desafio de sanar a base de dados, dependendo de como ela foi construída. Geralmente as bases de dados não estão padronizadas e precisam de um tratamento, como padronização de endereços, correção da geolocalização dos pontos, eliminação de valores discrepantes (outliers), etc.
Por fim, como o desenho de malha é tipicamente um processo estratégico, de longo prazo, é necessário estimar a evolução da demanda para o futuro. Nesta fase surgem modelos preditivos de demanda (sales forecast) que são capazes de estimar essas informações com alto grau de confiança.
Uma etapa normalmente negligenciada dentro de um projeto de planejamento da cadeia de suprimentos (ou SCND) é a definição de candidatos a instalações. Nela, os especialistas em desenho de malha trabalham para reduzir ao máximo o número de candidatos, com o objetivo de diminuir a complexidade dos modelos de otimização. Se não conseguirem essa redução, alguns modelos poderão levar até dias para resolver.
Em muitos casos, selecionam-se os candidatos a instalação de forma simplificada, definindo como candidatos os cem municípios com maior demanda, por exemplo. Por outro lado, a qualidade da solução ótima obtida pelos softwares de otimização está limitada pela qualidade dos candidatos selecionados.
Assim, é fundamental que exista um equilíbrio e os candidatos sejam definidos de forma lógica. Em um artigo técnico que publiquei, apresentei uma avaliação de diferentes métodos para obter candidatos a instalações a problemas no Brasil. Esse artigo, que foi discutido neste outro artigo, pode ser baixado em sua versão completa, aqui.
Por fim, aspectos de infraestrutura e disponibilidade de terrenos/armazéns para aluguel também devem ser considerados nessa etapa de definição de candidatos a instalações.
Para finalizar a construção do modelo de planejamento da cadeia de suprimentos, a parte mais complexa é identificar como se comportam os custos em função de diferentes configurações e decisões possíveis. Essa é a etapa mais técnica do projeto, e seu objetivo é estruturar uma forma de estimar como os custos irão se comportar, a depender de cada uma das decisões que se pretende tomar.
É preciso estimar, por exemplo, quanto seria o custo fixo de um armazém (aluguel, maquinário, custo de pessoal, etc.) para cada local candidato, considerando diferentes quantidades de carga movimentada.
Além dos custos das instalações, também é necessário estimar os custos de fluxos de transporte que podem existir em uma operação futura. Para os custos de transporte de carga fechada (full-truck-load) o comportamento dos custos é mais “previsível”, sendo possível identificar curvas de custo por meio de regressões estatísticas relativamente simples.
Já para os custos de transporte de distribuição, principalmente quando as entregas de última milha (last-mile) estão pulverizadas e as rotas de distribuição são compostas por diversos pontos de parada.
Esses modelos são os grandes desafios dessa etapa, uma vez que os custos não se comportam de forma linear em relação a características da operação de distribuição como o tamanho médio das entregas (drop-size), distância média entre pontos de parada e complexidade da malha viária em grandes regiões urbanas.
Após identificar a “solução ótima”, é necessário traduzi-la novamente, agora no sentido contrário (do modelo para a realidade), para que a operação real observe os ganhos previstos pelo modelo de SCND. Esta parte do processo, porém, é assunto para um outro artigo, que discutiremos nas próximas semanas.
Algum desses 4 passos gera dificuldade no planejamento da cadeia de suprimentos da sua empresa? Podemos ajudar! Entre em contato conosco.
Guazzelli, Cauê S., MODELOS E MÉTODOS PARA ESTUDOS DE CONFIGURAÇÃO DE REDES LOGÍSTICAS. Tese de doutorado. 2018. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3138/tde-13072018-112347/pt-br.php
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